sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Anti-ontem


Quando os cães de caça
pararam  à  beira do abismo,
enquanto um nó de pescador
estragava a gravata mais cara,
quando a prensa do operário
amassava o  belo chapéu panamá,
e quando as lavadeiras jogavam Q'Boa
para manchar os uniformes engomadinhos,
eram tempos de utopia e pessimismo.
Eu sei, eu não estava lá;

eu não estava mesmo.
Foi tudo tão de repente...
Tanto que eu nem havia nascido,
em 91 tudo já era culpa da gente:
Povo cabisbaixo e ressentido,
que agora carrega esse poder tão sofrido,
essa culpa de ser inocente...
Esse mau hábito de dizer sempre
 "sim senhor!" pra tudo.

Eu já disse que o indicador do ditador
não é o mesmo, que agora,  indica o parente,
mas quem quer saber a diferença?
Falo com as paredes...Na expectativa
de que um povo que  segue andando
entre tantas alianças, em círculos, sem lado,
um dia perceba que não anda pra frente,
e que de tanto correr nessa esteira de hamster
acabe ficando cansado.
Mas até agora,  ninguém parou  pra olhar,
nem para o próprio indicador...
Sigo falando sozinho.

Eu sinto, não é dessa vez
que esse país muda.
Eu bem sei...É verdade,
que a realidade não muda,
se ninguém quiser mudar
a própria realidade.

(Rhangel Ribeiro)

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