segunda-feira, 23 de julho de 2012

Mariposas e borboletas


Você me disse
que a borboleta bailarina
estava embriagada de néctar,
que os cachorros lambem feridas
porque não sabem assoprar,
e que bichos, assim como os tropeços da infância,
só são legais quando observados de longe.

No fim de uma sexta endomingada,
quando você apertou o disjuntor
e fechou a porta,
tudo fez sentido.
A mariposa que estava sobre a lâmpada,
a personagem do livro
e até minha sombra...
Todos me abandonaram,
na escuridão.

Imaginei que quem disse
que "lado de fora" e "lado de dentro"
é questão de ponto de vista,
de certo não pensou no fato
de que nada se avista
quando se está no escuro.

São essas coisas bestas
que me causam incômodo
e que me fazem levantar, toda madrugada,
bater o minguinho,
na quina da mesma cômoda,
sair tropicando até a cozinha,
fazer um chá de capim-limão
e procurar seus abraços
em uma xícara
de sete reais e vinte centavos.

(Rhangel Ribeiro)

terça-feira, 17 de julho de 2012

Honra e proveito

Honra e proveito
não cabem no mesmo saco.
Pra quem desce,
um degrau abaixo
é sempre um degrau à frente.
Então, tome uma pá de presente
e cave já o teu buraco!

A mãe que embalou o filho a vácuo
e o filho crescido, que fugiu à luta;
uma mente aberta, um quarto fechado,
a vontade,
quanto custa?
Nossos alunos barulhentos,
nossos professores calados...

Não nos contaram que na vida real
não existe desfecho bonito,
com canhões de papel picado
e belos fogos de artificio.
Que para alguns estarem certos,
 todo resto está errado
e que para germinar a liberdade
o jardineiro também foi enterrado.

 (Rhangel Ribeiro)

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Nós

Queremos pensar que somos iguais;
por termos o mesmo sangue vermelho,
e nos imitamos em frente ao espelho,
tantas vezes, sem menos, nem mais.

Atravessamos as mesmas avenidas,
como formigas que invejam caracóis,
presos em nossos casacos invernais,
enrolados nos mesmos cachecóis.

Vivemos na condição de sermos igualmente diferentes,
mas sempre desafiamos a noção de certo e errado;
por não podermos viver juntos;
por não podermos viver separados.

(Rhangel Ribeiro)