quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Marguerita

Sábado de aleluia passou,
podemos desmontar o altar,
ainda é o mesmo programa de domingo
e o que foi não vai mais voltar.

Sobrou a bagunça, a sujeira
e a louça na pia pra lavar.
Resquícios de felicidade,
aquele tipo de felicidade que come pizza
e bebe Coca Cola. Você sabe.

Mas faltou você,
você que foi,
que eu sei
que não volta mais.
Mas que eu não me esqueço.

Eu sempre te guardei um pedaço,
Marguerita.
O povo aqui acha bem estranho.
Mas sábado encerrei a tradição.
E advinha?Escutei 'aleluia!' em profusão!

A gente ainda lembra,
infelizmente a gente lembra.
Felicidade tem tamanho e sempre vai.
O tamanho da dor não importa,
nada incomoda tanto quanto o agora.

Difícil se acostumar assim,
sem estar ciente dos acontecimentos.
Mas se agora parece o fim
não se preocupe,
eu estou bem,
eu sobrevivo.

Alguém?
Alguém?
Cambio, desligo.

(Rhangel Ribeiro)

sábado, 22 de novembro de 2014

Um conselho


Se você cair um tombo, sofrer um acidente ou levar porrada... Não importa a ocasião. Se possível, tente proteger a cabeça e o coração. Nem que para isso você tenha que ferrar um braço, distender um joelho ou quebrar um nariz, não importa.

Na pior das hipóteses, se não tiver jeito (se não tiver jeito MESMO) e você se ver no terrível dilema, que é ter que optar por sacrificar um dos dois, não pense duas vezes, salve a cabeça! Afinal ainda não temos o cérebro artificial, o transplante de crânio ou o desfibrilador neural. Do contrario -graças aos avanços da medicina moderna- já temos aí várias maneiras de salvar o coração.


Eu diria que se 'Romeu e Julieta' fosse ambientado no século 21  não teria acabado como acabou (teria a opção de chamar um SIATE, com um paramédico, que certamente teria um desfibrilador).

Hoje um coração em péssimo estado não necessariamente significa o fim de uma vida. Então nunca deixe que um coração faça você perder a cabeça, até porque isso seria bem idiota. 



[Rhangel R.]

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Junk food

Cansa, descansa, se sente culpado,
sem entender o motivo. Mas ainda está vivo.
É isso que importa!
Escreve bobagens, tarde da noite,
como quem já amou e foi desamado.
Não sai espalhando,
é triste um bocado
sentir que nada valeu a pena.

Pensa, diz, dispensa,
no que é, o que foi, o que seria.
Dorme mal, come pouco, ri menos.
Espera, espira, para.

Respira.

Abre a geladeira,
só pela luz no escuro.
Liga o rádio,
sufoca-se em si.

Fala menos.

Se escuta muito,
se interessa pouco,
mas se interessa muito
pelo que já não escuta.

Se vai
não diz um ai.
Saiu,
não disse um piu.

Esbarra nas pessoas,
olha pela janela,
tudo em movimento.
Chega ofegante.

Suporta.

Café, mais café,
liga na pizzaria,
pede qualquer Junk food,
lancha só,
em um recôndito recinto,
ressentido, combalido,
por não ser como você.

(Rhangel Ribeiro)








segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Tamborim

Crianças na gangorra,
velhos na padaria,
andorinhas assobiavam
canções de alforria.

Eu vi,
uma via
duas mãos
nos esganando.

Ela pousou nos ombros
do tocador de tamborim
e eu posso jurar que nesse dia
deus sorriu pra mim.

Mas choveu,
as crianças choraram,
os velhos partiram,
as andorinhas pararam
e eu também parei.

Um equívoco de deus
pedir o que Dylan pediria,
sei que ainda é a mesma letra,
mas mudou a melodia.

(Rhangel Ribeiro)

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Outro rio

Foi até a pedra,
cruzou as pernas,
observou a ponte.

Para esquecer que é triste
foi até a ponte
e observou o rio.

O rio sussurrava para voltar atrás,
mas o atrás não existia mais,
segundo a segundo
é outro rio
e um rio mais vazio.

O tempo se revelava ilusório,
um curto espaço entre o nascer e o velório
e aqueles números que nunca erram
não sabiam mais que horas eram,
mas parecia que eram séculos e séculos,
em círculos...

Ele não sentia que sentia.
Tudo era uma grande alegoria.
E o rio lhe ofertou um abraço,
pra fracassar em esquecer o fracasso,
e afundar era mais que só cálculos e câimbras.

É certeza

não se nasce pra entender,
porque um homem vive pra morrer...
E o chão era também o céu.
E o réu era também o santo.
E o rio prosseguiu,
outro rio,
mais vazio.


(Rhangel Ribeiro)

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Triste demais para chorar

Por favor, não chute minha porta,
mas se chutar vá embora,
não peça desculpas,
apenas suma,
tudo é triste,
triste demais para chorar.

Vivemos em uma sociedade multicor,
mas que pensa em preto e branco.
O homem com a bíblia debaixo do braço
conduz o calvário de seus filhos.
É trabalho, é família, é banco,
minha cabeça dói,
tudo isso dói.

Dói nos ouvidos,
a catraca imparável,
a casca quebrando,
o papel amassado,
o som da metralhadora.

É o barulho da queda,
é a música da realidade,
não da realidade suave do Éden,
mas da realidade concreta e esmagadora.

A que decapitou o último cangaceiro
e que trouxe comida aos abutres,
que fez Genésio cair no chiqueiro,
fugindo da ditadura dos porcos,
a realidade dos homens
controladores e incontroláveis,
a que chega sem pedir licença
e que sai, sem se despedir.

(Rhangel Ribeiro)

domingo, 22 de junho de 2014

Esse lugar que amo


Viver é um eterno faça você mesmo,
você pode fazer tudo do seu jeito,
as pessoas são despidas do perfeito
e ser imperfeito é seu direito.

E você pode brincar na chuva,
subir a árvore mais alta, correr de pantufas,
seja o que for, o que você quiser,
se somos ridículos, quem não é?

Temos a tragédia,
temos a comédia.
Você não precisa fazer rir
se quiser chorar!

Como é bom viver nesse lugar!

Como nos tratamos como irmãs e irmãos,
temos tempo para admirar cada cenário desse mundo lindo.
Vá sem pressa, sempre há alguém para dizer 'bem-vindo',
e não há motivos para ter medo no coração.

As coisas custam o que valem,
o justo não pede nada em troca,
fazemos bobagem,
comemos pipoca.

Temos o açúcar,
temos o sal.
quantas vezes nós comemos a sobremesa,
e partilhamos o prato principal!

Como é bom viver nesse lugar!

Há tanta alegria,
há tanta vontade,
tanta imaginação na verdade
e tanta verdade na poesia.

Você pode sair por  aí com seu amor,
ou você pode amar a si mesmo.
O amor não obriga ninguém a amar,
e todos amam sem obrigar!

Temos educação.
Temos respeito
e cooperação.
Então, porque eu estaria triste?

Como eu amo,
como eu amo esse lugar!

(Rhangel Ribeiro)



sexta-feira, 6 de junho de 2014

Opera vitae

Os cupins
se equilibram
nas cordas enferrujadas da viola.

As varejeiras
praticam saltos ornamentais
no resto do café de ontem.

Os pássaros
não cantam porque estão alegres,
mas porque batem ponto.

Os peixes
em cardume,
se comunicam.

O homem sofre.
Sofrimento tão grande que desistiu de chorar.

Poetas
são os que percebem
que nada, no fundo, não é nada.

Os outros
podem dizer que não vale a pena
mas vão dizer que isso é  poema
só porque não encosta nas margens.

(Rhangel Ribeiro)



quarta-feira, 7 de maio de 2014

O Andarilho


Sou um andarilho.
Sou um sujeito oculto.
Me equilibro nos trilhos da linha férrea,
me recosto nas colunas,
debaixo das marquises;
sou aquele que se arrasta
a procura da companhia da poesia bêbada.
O que evita se acostumar  com as coisas ruins,
tentando mensurar a complexidade do pensamento univérsico.

Caminhando invisível
vi sorrisos em campos de batalha,
lagrimas na platéia de um circo mambembe.
Casais trocando caricias nos templos do deus Sol,
sussurrando "amor, você pensa demais..."
eu vi o amor, juro que vi
mesmo sendo um solitário.

Sou um andarilho.
Pedindo trocados,
profetizando o Apocalipse,
estou em qualquer lugar, menos onde deveria estar.
Sei que ninguém é obrigado a olhar para a minha cara nesse estado,
então vou para outro, e para outro...

Li um capítulo de um livro sem lógica
onde aprendi que a sabedoria mora na certeza do abstrato.
Viver é uma aula, e já haviam me ensinado tanto...
Mas fui sábio o bastante para esquecer a matéria.

Sou o andarilho
que por andar tanto aprendeu
que todo-santo-dia é uma despedida
para quem vai de carona
no cangote desses monstros barulhentos,
que soltam veneno pelas ventas,
estremecem ladeiras,
iluminam varandas,
e racham o Anti-pó.

Inalei poeira de estrada,
e fui eu a própria poeira.
Respirei oxigênio alheio,
desviei de ratoeiras,
comprovei que desconhecidos preocupados existem
e conhecidos que estão 'nem-aí' também.

Sou um andarilho.
Sou uma ilha cercada de gente por todos os lados.
Fujo da brutalidade do mundo
nos encanamentos de minha própria mente,
por dentro nada é bruto.
Preciso de sonhos tristes para lembrar que estou vivo,
e de pesadelos para lembrar que sou gente.

(Rhangel Ribeiro)






quinta-feira, 3 de abril de 2014

Sobre viver

Aves Marias
já não salvam as aves,
nem as Marias.
Salve Rainha
é coisa pra inglês ver.
O Pai Nosso
é sempre melhor que o deles;
e o Creio
já não tem um terço da graça
que os recreios ainda tem.

As igrejas pregam
o que é de César
e os Césares pregam
que viver é sacrifício do espirito.
No fundo, quem se importa?

O processo de oxidação,
a decomposição do que foi,
a TV no porão,
que já não presta
e a parede descascando
me fazem lembrar que também fico velho
e que morro a cada milésimo;
sim, tenho medo,
mas essas coisas me sussurram
que ser humano é ter medo.

Sendo assim
acho que  não deixo de ter medo
pra não deixar de ser humano.
O Ser Humano
é só o que tenho para acreditar.

(Rhangel Ribeiro)

quinta-feira, 13 de março de 2014

"Você sabe com quem você está falando?"

Eis a resposta dos que não tem resposta,
a única pergunta de um ignorante,
o eco do ego da casa grande
de um egoísmo que não se esgota.

Eis uma saída na cegueira dos nós!
Se houvesse uma, que fosse o esgoto...
Mas falham os retos, e desse túnel torto,
só saem ratos.
E só quem não tem saída somos nós.

Aumenta o coro que pede que o cale
com "você sabe com quem você está falando?"
Eis a moral de um imoral...
O rufar dos tambores da estupidez primitiva,
de quem pensa estar acima do bem e do mal,
eis a prova definitiva
de que sucesso não cura mediocridade,
e de que o medíocre tem feito sucesso.

Na Terra de Vera Cruz.

(Rhangel Ribeiro)


sábado, 1 de março de 2014

A gênese matemática

No princípio era o igual.
A ordem não alterava o produto, 
E não existia gênero, número e grau.
 Então, sem mais, nem menos 
Houve uma grande divisão! 
E fez-se o menos e o mais.
Aí foi postulado que o resto é incógnita, 
Dízimas periódicas,
Mentira matemática... 
Mesmo assim alguns ainda formulam pre-
conceitos; 
As vezes parece uma constante 
A soma dos diferentes ser apelidada 'negativo'. 
O resultado
é que no fim ainda é tudo igual!
Como no princípio.
Cada um com sua função. 
Cada qual no seu cada qual...  

(Rhangel Ribeiro)

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Eu FUJI, 
e a polícia me HONDA ! 
Se eu digo que PHILCO
a sociedade me FORD !

Corro feito PUMA !   


Me sinto mais LEVI's ...  


Já anoiteSHELL...  

Em casa, meio in SONY
nada fica CLARO, 
sou NUTRIMENTAL !   

[Rhangel Ribeiro]

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

"ALIENADO"

Martin Luther King era alienado, Francisco de Assis era alienado, Albert Einstein era alienado, Gandhi era alienado, Dalai Lama É alienado, Malala Yousafzai é uma menina muito alienada, Geraldo Vandré-Alienado, Bob Marley além de alienado era maconheiro, assim como John Lennon foi alienado e Ringo Starr ainda é, existem adeptos do movimento Hippie que são bem alienados, Monges Tibetanos TODOS alienados, Tolstoi?Aquilo era um velho Pseudo-anarquista que não acreditava em violência, alienadasso!!João Paulo II foi um alienado convicto e alienou Madre Teresa também, Mandela não era alienado, mas depois que foi preso resolveu virar, Jesus era alienado, esse que vos escreve, e todo mundo que defende a não-violência, alienados!
 Declaro aqui que no Brasil só quem não é alienado é o Black Bloc!

-Rhangel R.

 (Inspirado pelo texto "Bicha" de Tarso de Castro)

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Espinha de Peixe

Caminhamos sem os nomes dos bois,
para mais um carnaval de máscaras;
fórmula de Bhaskara,
conta de 2+2.

Duas faces, um lado misto,
sempre seu oposto, eu aposto
que é pouco Cristo,
pra muito apóstolo.

Mais gentileza, menos gente lesa!
Sei que é alto o preço,
sei que é grande a pressa,
mas sabemos o destino de quem fura sinaleiros.

Rebeldes sem causa, desenho de giz,
tempestades, bombas de gás,
se não se pode ser feliz,
que pelo menos tenha paz.

Para quem faz do irrelevante o relevante,
nessa Terra, pois o céu a deus pertence,
o atraso vem a tona adiante,
se o subversivo é o subserviente.

(Rhangel Ribeiro)