domingo, 31 de julho de 2011

Sobre conversar com o vento

Nos dias em que não papeio
com senhores ou senhoras. 
Eu jogo palavras ao vento 
e a conversa vai embora. 

Por isso te recomendo: 
proseie com o vento agora, 
não jogue fora todo tempo 
que você pode ganhar 
jogando conversa fora. 

Para isso esteja atento, 
o vento não marca hora, 
seu som só vem com o silêncio 
que muita gente ignora. 

O vento não exige cumprimento, 
sorrisos, assuntos e muito menos cobra 
pela palavra que falta, pelo papo que sobra. 
Dizem que Deus com um sopro de vento 
criou toda a fauna e a flora, 
e todo o invento sagrado 
que hoje o cimento devora. 

Dizem que o vento não tem sentimentos 
mas acredite... O vento chora, 
e quanto mais a cidade corre 
muito mais o vento demora. 

O vento não pede agradecimento 
e não exige multa ou mora, 
o vento só pede um momento, 
pra ser sentido noite adentro 
e quem sabe 
alma afora.

(Rhangel Ribeiro)

segunda-feira, 18 de julho de 2011

"Bença, vô"

saudades do meu vé-inho
trazendo bolachas Maria,
comendo o piroto, quietinho
observando a sua cria

meu vô hoje me faz falta
meu vô sabia abraçar
meu vô tinha glicose alta
mas a vida soube adoçar

conversava co'os vizinhos
sobre tudo que ele via
de boina, a mascar matinho
só viver é o que queria

me lembro, co'ele vé-inho
fomos a churrascaria
o velho, jeito quietinho
só olhava pra prataria

o velho fazia paçoca no
velho pilão de madeira
meu vô me pegou no colo
meu vô me deu mamadeira

meu vô observava os pássaros
sorria das brincadeiras
o velho vivia a vida e
também falava besteira

quando o velho foi embora
deixou avisado que iria
deixou um vazio no peito
deixou sua prosa em poesia

digo agora: "bença, vô?"
sua resposta eu queria
"Deus te abençoe, meu filho
Deus ilumine o teu dia".

                                           Rhangel Ribeiro
                                                                 
 Revisado por Ivan Justen Santana


(este  dedico a Augusto Machado Ribeiro.. meu falecido avô )


 


terça-feira, 5 de julho de 2011

"Sunt ibi"

 Existem  bêbados na Praça Tiradentes
 vendendo seus casacos em troca de bebida,
 trajados como indigentes
 anunciam uma lenta despedida.
              
                    -

 Existem velhos artistas decadentes
 se apresentando para a multidão desconhecida
 em meio um rebanho de  gentes,
 são achados de uma geração perdida.
  
                    -

 Existe um pássaro engaiolado em minha mente
 triste e sem comida.
 Sigo aguardando doente
 o alpiste de minha vida.                                                               

                                                                                
                                                                 Rhangel Ribeiro                                     

sábado, 2 de julho de 2011

Um dia qualquer

De pijama
sento em frente a televisão,
minhas meias encardo no chão empoeirado.
Chuvisca estilete,da pra ouvir no telhado,
Meu banquete são migalhas de pão.
no fim miolos.

Enfim, mais um dia perdido.
Igual a todos os outros.
                                                              Rhangel Ribeiro