segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Poesia Perecível


Saudade do tempo da roda cotia, 
quando a gente caia, 
e todo mundo caia junto; 
lembra? 
Todo caipira sem assunto 
tinha um pouco de Platão... 

e essa nossa filosofia vã... 
que eu pensava ser tão em vão, 
é o que agora 
me faz cronicamente insone, 
tão salvo, tão são... 
(antes fosse menos são). 
Sabe, nunca nada é claro 
então sempre é quase amanhã... 

Já não consigo ignorar 
esses pobres diabos endiabrados, 
motoqueiros, caminhoneiros mal-encarados, 
em botecos com cinzeiros feitos de fundo de lata de cerveja, 
eu sei, que eles rezam todos os dias para conseguir dinheiro, 
porque sonham correr pelas estradas do cinema americano... 

Já faz alguns anos, 
que eu anoto o que não tinha notado antes; 
por exemplo:Já notei, que pessoas em ônibus, 
saem na marcha dos pinguins 
e entram como manadas de elefantes, 
com milhares de ideias que jorram dos cérebros 
direto para o fundo das gavetas. 

Eu não consigo fingir, 
eu me sinto um eterno bebê;
a sociedade diz:"-come papinha, 
papinha é bom pra você!" 
e eu não consigo comer. 

Sabe, eu vejo muita adoração, 
mas eu vejo muita dor, 
eu vejo pouca ação. 
Você diz "carne", 
eu só vejo pão. 

E enquanto domingo, 
todos vão a igreja 
orar pelo pedaço com a cereja, 
rezar pela melhor parte do bolo, 
agradecer a deus por ter um cérebro... 
Eu acredito fazer o mesmo 
agradecendo aos meus, 
por não ter gaveta. 

(Rhangel Ribeiro)

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