terça-feira, 21 de agosto de 2012

Carta ao novo faroleiro


Até semana retrasada
parecia impossível,
mas quando eu terminar esta carta
descerei pela última vez 
as escadas do farol.

A ansiedade me faz imaginar 
que em breve poderei fazer qualquer coisa;
ser pintor, alquimista, 
escritor, mágico desenhista
desses que sem perspectiva
apagam a linha do horizonte
(e ainda  assim)
 encontram um ponto de fuga!

(Coisas que só quem nasce de novo entende...).

Ao senhor, novo faroleiro,
desejo coragem  e  boa sorte,
mas aviso:
Em maré de altas e baixas,
com o passar lento das horas,
comendo infinitas variações de ostra
e sentindo o insuportável cheiro
do cocô das gaivotas;
é bem provável que lhe arrebate
 uma súbita e incontrolável vontade de  fugir da ilha;
mesmo sem eira, nem beira, (nem bússola);
e que sonhe todo santo dia, observar de uma escotilha,
(com enjoo digno de montanha russa),
tudo desaparecer...

Se isso acontecer,
lembre-se dos pescadores
e dos marinheiros perdidos;
eles são os únicos que se importam
com sua existência.

Lembre-se  do garotinho
que sonhava em trabalhar aqui no alto
e que olhava encantado o mar,
de uma maneira tão  inocente (e superficial),
até engolir (à  força) o primeiro gole
do coquetel de água com areia e sal,
preparado docemente pela mãe natureza...

 Lembre-se também de como é fácil 
gostar de algo que não se conhece a fundo;
e de como o amor a distância
é bem mais fácil de amar...

(Rhangel Ribeiro)

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