A camareira ajeita a cama,
enquanto nobres sentam-se à mesa
e a copeira serve mais sopa,
dentro dos muros da fortaleza.
Lá maquinam o decepamento de asas,
ao som obscuro da música sacra.
E eis que é um anjo dedilhando a harpa
no interior profano daquela casa.
Os banquetes devorados aos berros,
com os mais belos talheres de prata.
Mil damas para cada farra,
entre cortinas blindadas à ferro.
Tudo que o ouro pode ter
e o ouro compra de tudo.
Se conhecimento é poder
eis a maior biblioteca do mundo.
Masmorras em construção,
guardas em todos os portões.
Medalhas aos medalhões,
vigilância e proteção.
Se aproxima um barco à vela.
O rei grita ''piratas!'' e compara tripulantes a ladrões.
O sacrifício do povo para defender a cidadela.
Em qualquer ponto do atlas, mirando seus canhões.
Moças e moços em sacrifício
ou crianças em seus porões,
morrerão jogados em hospícios
ou presos à grilhões.
Sem títulos ou condecorações,
sem histórias sobre suas façanhas.
Não irão escrever canções
sobre cada batalha ganha.
Os que estenderam a mão aos famintos,
no império construído sobre a fome,
não terão bosques com seus nomes,
nem festas regadas à tinto.
São jovens em suas garagens.
Prisioneiros no calabouço.
Os esmagados por engrenagens,
os que salvam o dia na pausa para o almoço.
(Rhangel Ribeiro)
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