Meus conhecidos anônimos,
meus amigos desconhecidos,
eu sou só mais um
solitário nessa multidão
de almas solitárias;
sei que esse isolamento me pune,
sei que nossa amizade é difícil,
mas sei também que algo nos une
no topo do vale do silício;
e como não vamos parar de cooperar
para esse individualismo tolo,
e de julgar o 'feio',
e de 'cuspir à distância' na inferioridade do alheio
a cada suposto 'achismo' que acharmos
ser cômico, canônico ou absurdo
desses nossos arqui-inimigos semi domésticos
sem espada e escudo.
Mesmo conscientes de que somos cobaias
nesses simuladores de sensibilidade zero,
e de que continuaremos aprisionados
nessa impossibilidade de tirar nossas bundas dessas cadeiras
com braços de prata e pernas de ferro;
mesmo nessa dificuldade de nos livrar dessas couraças
que protegem (e arranham) nossos corações de vidro.
Mesmo assim, nessas condições,
mesmo no pleno florescer desse egoísmo que nos habita;
creio que ainda temos capacidade e propriedade
para falar de hipocrisia, desse jogo de cartas marcadas
(se pelo menos nos convidassem...)
para odiar esse país verde e sujo de lama;
e lutar!(pra que?)Para mudar!(o que?)
Uma palavra fala mais que uma ação
(não?).
Eis-me aqui,
Eis-me a questão,
mais um de vocês,
reclamando de tudo,
até da reclamação...
Pedindo que se mexam!
Em nome do 'bom gosto'!
Enquanto procuro seus nomes,
nesse paraíso 'blue'
que é meu precioso
e descartável
livro de rosto.
(Rhangel Ribeiro)