terça-feira, 2 de junho de 2015

O homem na lua

Existe um homem na lua.
É ele que controla as marés.
Se a noite ele te acompanha até tua rua
amanhã nenhum barqueiro estará de pé.

O olho não olheia.
A mão não manuseia.
A reza não milagreia.
O barqueiro não barqueia.

Se não dormir o sono vai tirando a vontade da vida.
Como a esperança perdida tira a potência de agir.
E como quem trabalha no mar vai dormir sem lua?

Porém, pois é
a gente via ele contigo no cais.
Tu dizia que ele vale pelo que é.
E ele dizia que não vale pelo que faz.

Tirando pelos dois
o amor é um sentimento egoísta.
E se não é,
pelo menos, pra vocês foi.

A lua era feito turista.
lustre
que só alumiava o casal.

Até teu amor desamorar.
Até a nivela desnivelar.
Até o eterno deseternar.
Até o mar ficar sem sal.

Pois é, homem na lua ainda é homem.
Um homem que não não vive e não morre.
Por que na lua não tem emoção.
Não tem razão pra sair da lua,
nem São Jorge matando dragão.

O problema é que o homem pensa
demais,
se não pensasse não seria homem,
seria uma barata.

Ouvi dizer que só a barata sobreviverá ao apocalipse.
Veja só, a mais baixa casta,
no mais longo eclipse!

Insetos não amam,
não trabalham, não pensam.
Para o homem sem amor a vida é trabalho.
E sem os dois, o que é a vida?
Melhor mesmo é trabalhar por amor.

O homem na lua não dorme.
Nós o agradecemos
para que ele se sinta feliz.
Feliz pelo que é para nós, os barqueiros.
Para nós ele é o que faz por nós.

A gente ama muito tudo isso.

(Rhangel Ribeiro)