quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Era Éris

Décima oitava manhã azul,
de uma primavera infecunda;
em que só uma toalha é florida,
em que a nossa vasilha é funda.

Girava a rosa dos ventos;
pássaros, pousavam, em bandos...
Galos ao meio-dia eram abutres voando,
sobre a triste carcaça do sofrimento,
roupa molhada, aguaceiro bento.

Nossa amada Tortinha, sem recheio
repleta de meandros.
Uma menina bonita
era Éris, enfeitada com fitas
abrindo seu wagasa,
para um mergulho, sem escafandro
do alto de um velho Jequitibá.

(Rhangel Ribeiro)

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

2%


Eu estava ali,
era qualquer coisa entre os que não souberam ou não opinaram,
o marginal, na margem de erro para mais ou para menos.
Negando o acesso negado, com a violência de todos os ligres.

Eu estava ali,
com os negros adultos adotados por famílias ricas,
com os escritores que amo.,
com lindas mulatas de olhos verdes,
e no troco de três centavos.

Eu estava ali,
bebendo tubaína com os comunistas,
acreditando que trabalho não define carater,
escutando os últimos romanticos,
e achando os Stones melhores que os Beatles.

Eu estava ali,
no senso,
no homem comum,
na minoria,
e na diferença.

Sendo que o senso e o comum
nem eram mais tão amigos...

(Rhangel Ribeiro)