quarta-feira, 29 de maio de 2013

Ce n'est pas un poème

Estranho:
Esquisito,
desconhecido.

É estranho...
Antigamente mamãe dizia,
quando ainda me dava banho:

'Não aceite nada de estranhos!
Se uma coisa vem de um estranho,
só pode ser porcaria!'

Hoje em dia confundem idiotas
com estranhos...
Mas nem todo estranho é idiota,
e nem todo idiota, necessariamente,
é estranho.

Eu, por exemplo:
Não sou tão idiota,
quanto os verdadeiros idiotas pensam!

Só sou estranho mesmo...
E quando se é estranho
todos são estranhos!
Menos você.

Eu sou o céu,
um céu fechado,
quero me abrir,
mas engoli a chave,
me tranquei para fugir,
mas quero liberdade!

Nunca quis ser visto,
no entanto, não consigo
fazer "vista grossa"
para quem quer 'me ver'.

Aos poucos saio do limbo,
desse casulo lindo
feito por bichos da goiaba,
saio na base do pé de cabra!
Ao som de um coral de bezerrinhos,
para ser livre,
como uma gaivota!
Não,
como um  idiota.

(Rhangel Ribeiro)


quarta-feira, 22 de maio de 2013

Deapé

Como eu poderia agradecer
tanta sorte?
Tem algo de Augusto nela...
Tenho uma mão quente e pequena
em um inferno frio e sem norte.

Somos dois anjos da noite,
magriços,
perdidos,
sem penas;

apenas
rodeados
por cortiços
becos, putas,
e juntas...

E juntos,
perseguidos pelo gato de Alice,
traçando linhas sinuosas,
com nossas passadas tortas
como sinais vitais num monitor cardíaco,
como as trágicas histórias de amor
do fim do século quadrado.

Pela primeira vez não fiz nada de errado,
Ganhei um abraço forte e apertado afinal:
"-Rhangel, tenha uma boa noite!"
"-Faremos o que pudermos...
...Mesmo sem saber de nada..."

Eu, homem mal feito
que não sabia,
nem sei direito
o que é isso de 'amor'...

Caminhei entre a garoa fina,
e com o nosso fim,
o frio retornou,
com o vento
e a solidão...

Olha, veja só...
O cara que ama ficar só,
também tem um coração!

É...Eu não sabia
mesmo o que é o 'amor'...

Rhangel Ribeiro


sexta-feira, 10 de maio de 2013

Prece ao olhar onipotente


Senhor,
permita-me renascer
ainda que desse tamanho,
mas com a permissão de transgredir
e ter a indecência de ser feliz!

Eleva-me, até eu aprender
alcançar as nuvens
e colocar rolhas enormes nas chaminés das fábricas.

Onipotente,
quero finar-me em consciência
e viver o bastante para ser jovem,
nas melodias que me absorvem
e decantar minha decadência...

reaparecer
como um querubim,
um bebê numa banheira,
boiando na maré mansa,
com olhos de lince, ou de lança
para olhar direto nos olhos da menina
de olhos verdes-dourados-azul piscina...


Para aprender
a rir
e a chover pelos olhos.

Compreender
se riem de mim
ou  riem comigo.

E saber
quando um momento ruim
precede
um bom momento.

(Rhangel Ribeiro)

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Zé Isaac


O velho Chico
declarou a morte da canção.
O velho Quino
criou Mafalda pra uma marca de sabão.
O velho Zé Isaac
roubou uma pedra de sabão.

Mas deu azar...

Bateu de frente
com uma batida da policia militar,
foi abatido em um camburão,
e espancado, em frente ao Mercado Municipal.
R. Cap. Félix, 110 - Benfica

POW! POW!
Ploft!
As cortinas se fecham.
O povo aplaude.

Os dois primeiros?

Foram destaque no Jornal da cidade.

Zé Isaac?
Só mais um cadáver, na hora do almoço.

Zé ninguém,
Zé sem-rosto,
ninguém especial a ponto de ser
digno de aparecer em um Plantão da Globo, ou coisa assim...
Muito menos de ter um Tablet ou um Iphone.

Zézim.

Malabarista-palhaço de rua,
eu olho o redentor;
gigante de pedra-sabão,
de braços abertos
sobre o corcovado,
parecendo mais um suicida
que quer se jogar do alto de um prédio projetado por Niemeyer!

Expoente de uma geração!
De uma geração sem voz,
que não pede um guia,
mas  presta gratidão ao seu algoz!

TOMADA UM!

Respire, sorria,
palhaço!

Você está no paraíso!

Dizem que o ocorrido com as Torres Gêmeas
(obra de um árabe, compatriota de Seu Zé Isaac!)
foi o "maior ataque terrorista de todos os tempos!"

E Hiroshima e Nagasaki,
foi o que?
E eu com isso?

E eu?
Eu sou o que?

Eu vendo sentimentos
para quem não quer comprar!
E mantenho viva a luz
que não quer morrer jamais!
A geração muda,
eu-mudo.

sou a poesia,
cada vez mais muda!


(Rhangel Ribeiro)



quinta-feira, 2 de maio de 2013

Análise de risco



Base,


Muito os estudei,

porém hoje só me pergunto:

'insan's

o que pensam de mim?'

Tenho meramente o que me foi dito

nas pichações nos muros:
Não sejam otários!
Sejam libertários!

Nos bares,

e em becos cheirando a mijo

eironeia!


Descubro que a beleza...

Ah!Beleza
só se revela para quem merece!

Sabe,

tem quem sabe,
tem muitos querendo ensinar,
e poucos querendo saber.

Mas foi pouca a reflexão que vi!

Nesses anos que estive aqui.

Com mais sabedoria e meditação,

quem sabe,
enxergariam,

que não é uma

"grande corporação",
o ' grande vilão',

que o 'grande vilão'

está neles mesmos!
Em cada-um-deles

insan's!


É digno de lamento,

saber que uma vez insan,
insan 1, 2, 3...

Four

Ever!!

Me deixem longe,

me mandem de volta
já!!

Essa humanidade não me merece!

está me contaminando!

Magister,


Pouco aprendi...


E cada vez o número de perguntas

é maior que o de respostas!

O que pensam de mim!?

E vocês aí
ainda precisam de mim!?
            -
Sei que eles encontrarão isso,
mas jamais vão refletir!

Quid me vis?


(Rhangel Ribeiro)